sexta-feira, 27 de junho de 2008

...sol!


Depois do desequilibro da chuva... o renascer do sol na sua plenitude! O calor... a forma das formas! O odor...a passagem do rio! As coisas sem nexo que penso e digo! Agora apeteceu-me escrever frases sem sentido nem ligação... as ligações ao mundo do nada! E do nada se faz tudo...tira-se de um lado põe-se no outro e o que resulta: tudo e nada! Que maluquice a minha...
Rio-me a olhar para o que escrevo, que sensação estúpida de ser estúpido sem nexo...o que escrevo? Meras tolices... volto a rir-me e a imaginar o que pensa quem me lê? Que demente escreve uma coisa destas? O que vale é que a minha demência, ainda não serve como prova de condenação aos olhos do mais simples ser! Volto a rir...é preciso o que? Juízo? Isso compra-se! ah...ah...ah... mesmo que se venda, não compro... além do mais o preço deve estar a ser alvo especulação por algum lobbie da demência mundial, tal como o dos simples bens de consumo! Prefiro continuar a viver esta demência saudável da utopia diária!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

...merecemos?



Queixa das almas jovens censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crânios ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte

Natália Correia